Andarilhos virtuais...

20 de dezembro de 2008

História amarga de Eurípides



Em mais de 50 anos de teatro, o pensador grego Eurípides traçou paralelos entre a religião e a frustração psicológica humana. Além de escrever 92 peças, ganhou apenas cinco prêmios, ele foi um exemplo típico de seu pensamento brilhante e incompreendido.

O fato da mitologia ser (ou ter sido) coroada como bobagem é fato consumado. Não há fundamento nas crenças em deuses que foram adorados naquela época. O pensador Eurípides (480 e 406 a.C) observou a religião como um problema coletivo: a mitologia seria uma forma de dominação social, amedrontar pessoas com mitos era o melhor jeito de julgar diversas atitudes insanas e colocar nos ‘eixos’ a moral de cada indivíduo. Eurípides descobriu um conformismo nas crenças mitológicas – e, com recurso independente intelectual, tentou demonstrar que a religião era sempre um pré-requisito para o agnosticismo ativo. Isto é, a doutrina do agnóstico declarava o espírito humano como incompetente para conhecer o absoluto. E, por isso, qualquer coisa inexplicável, guerra ou tragédia eram sempre culpa dos deuses. As peças teatrais de Eurípides enfocam acontecimentos marcados por tensões amorosas violentas, destacando homens e mulheres possuídos por paixões platônicas ou dilacerados por atitudes trágicas. Esse desconcertante paralelo está desenvolvido em Medéia, Hipólito, As Troianas (tradução do grego e apresentação de Mário da Gama Kury), parte de uma coleção da editoria Jorge Zahar Editor Ltda. É uma das obras teatrais mais representativas de Eurípides. Os textos do artista pode ser uma porta de entrada para quem quer ter idéia sobre os mais influentes pensadores antigos. Sua análise crítica sobre o homem trouxe maior aproximação da vida cotidiana do que as obras de Ésquilo e Sófocles.
Eurípides foi o expoente questionador da religião e moral tradicional. Homem barbudo, solitário e insociável. Vivia lendo numa caverna em Salamina, ilha próxima de Atenas, passava dias inteiros sentado, a meditar. Nos olhos de Sócrates, Eurípides era o melhor dramaturgo e nunca iria ao teatro se não tivesse uma de suas peças encenadas. Dignos de um diálogo com alto potencial (para) libertar o homem de seus medos primitivos, os sofistas inspiraram Eurípedes na arte do raciocínio hábil e persuasivo. Esses filósofos desenvolveram no dramaturgo ‘moderno’ o cultivo da macumba profana: a igualdade. A idéia de direitos iguais entre homens, mulheres, escravos, senhores, cidadãos e estrangeiros, que no tempo antigo não existia, fazia parte do seu livre pensamento. Eurípides era classificado como um artista fora do padrão de sua época e, através dessas circunstâncias, se transformou em alvo de zombarias dos poetas cômicos como Aristófanes. No fim da vida, Eurípides viveu na Macedônia na corte do rei Arquelau. As escrituras relatam a morte trágica do pensador. Acidentalmente, ele teria sido despedaçado pelos cães de caça do rei.

12 de outubro de 2008

Bruxaria



Medéia, deusa
das plantas medicinais,
rejuveneceu o pai
de Jasão com um
cálice da poção.

A feiticeira, em
noite de lua cheia,
busca os encantamentos
das estrelas forasteiras.

Elevando-se
em carros guiados
por serpentes voadoras,
Medéia viaja
em busca de plantas
rejuvenecedoras.

Seguidoras de Medéia,
as feiticeiras de
Macbeth montam
um caldeirão com
restos de peles,
orelhas e olhos
de largatos ferventes
para a poção.

Circe também
apoderou-se dessa arte.
Suas ervas mágicas
transformavam homens em
animais dóceis,
como pacas.

Jasão, chefe dos
Argonautas, abandona a
pobre bruxa.
Se apaixona por Créusa,
que é envenenada por
um presente da deusa.

Medéia mata
os próprios filhos
e como se não
bastasse o martírio
incendeia o palácio
dando fim ao regaço.


Larissa Araújo.


Embebida pela fonte de vários poetas como Ovídio, Homero, Ésquilo e Virgílio é impossível não deixar de expor inúmeras façanhas e vinganças que as mulheres dos heróis ou deuses são capazes de cometer quando são abandonadas ou traídas.
Ovídio em seu livro Cartas de amor recolheu diversas histórias mitológicas e deu vozes as mulheres que foram deixadas pelos seus maridos. O poeta apresenta as Heróides, que significa heroínas. As cartas fictícias, escritas em dísticos elegíacos, são de mulheres que amam perdidamente alguém ausente e não se conformam com o destino que tiveram.
No poema Bruxaria, de Larissa Araújo, é fácil perceber a vingança de Medéia com a filha do rei Creonte, Créusa. A bruxa dá um vestido de noiva envenenado para a futura esposa de Jasão. Isso porque Medéia não aceita ser repudiada pelo seu amado.
Além de ter ajudado o herói na conquista do tosão de ouro, ela vai embusca de ervas mágicas para rejuvenecer Esão, pai de Jasão. Antes de sua infidelidade, o herói se dava bem em todas suas aventuras graças aos encantamentos de Medéia. O poema mostra também outras feiticeiras como Circe (história revelada em edições anteriores) e as bruxas do livro de Shakespeare, Macbeth.

11 de outubro de 2008

TORMENTO



Encontrar a razão
em duas almas
apaixonadas
é como caminhar
no labirinto
cretense habitado
pelo temível
Minotauro.

Com um fio de lã,
Ariadne seria
a guia dos escuros
corredores da luz
vã.

Nada se pode fazer
quando os corpos
são paralisados
pelo veneno de Eros.
Imobilizados, os
corações inflam,
abrasam e queimam
afagados.

O novelo de linha
foi rompido
e as duas almas
continuam perdidas
no labirinto.


5 de outubro de 2008

OVIDIANA



Stradono - Penélope Tecendo


As lágrimas
revelam a dor.
Num tiro certeiro,
Eros atinge,
impiedosamente,
meu peito.

A flechada
fez-me sentir
como libélula
que, atraída
pela luz,
roda em torno
das chamas.
E só pode
confessar o
mais profundo
sentimento para
aquele que a
acendeu.

Inspirada em
Penélope,
busco inúmeros
artifícios para
fugir dos
pretendentes.

Em noites
solitárias,
ela cansava
as mãos de
viúva com
a mortalha
inacabada
de Laerte.

Eu, em dias
vazios, busco
o corpo das
palavras
incompletas.
Roubou-lhe
beijos
ludibriados
pelos lábios
invisíveis.

10 de setembro de 2008

Minúsculos guerreiros


Por entre as enormes folhas de bananeiras encontrei uma sociedade de pigmeus. Medindo cerca de treze polegadas, essas criaturas pequeninas são dignas de coragem e valentia de um gigante. Um deles se aproximou e pediu para que eu sentasse do seu lado. Atendi ao pedido e prestei atenção em cada palavra revelada. Tito media um pé de altura, seus olhos amendoados expressavam medo e pânico. O baixinho e seus amigos aventureiros não se acostumavam com esse país desconhecido e diziam que era difícil se adaptar com o clima tropical do Brasil.
Segundo o pequenino, toda a sociedade de pigmeus teve que imigrar para diversos paises. Isso porque seus inimigos, os grous, devastaram grande parte da cidade que se encontrava na nascente do rio Nilo, na Índia. Inúmeros pigmeus foram perseguidos e mortos em batalha sangrenta.
Confesso que eu me divertia com o modo de vida e a cultura dessas diferentes criaturas. Suas casas, edificadas com cascas de ovos, representavam segurança e proteção. Um dos anões quase me atropelou com seu carro puxado por perdizes. Ergui a sobrancelha de tanto espanto, mas depois desatei a rir.
Perguntei para Tito o que de mais corajoso o exército já havia feito. Ele me respondeu que o ato de bravura que repercutiu no mundo inteiro foi quando os soldados atacaram Hércules. No entanto, Hércules riu dos minúsculos guerreiros. Embrulhou alguns dos anões dentro de sua pele de leão e entregou ao rei de Micenas, Euristeus. Uma lágrima despencou dos meus olhos. Tomada por pena e compaixão, convidei todos os pequeninos para morar no meu quarto. Desde então, Tito e seus companheiros vivem confortavelmente em minhas gavetas.

APRENDA COM EPICURO

Tela: Waldemar Curt Freyesleben - paisagem paranaense, 1943

Existem infinitas possibilidades de aproveitar momentos ociosos como deitar na grama de um bosque ou jardim, caminhar tranquilamente pelo parque, dormir em baixo de uma árvore e olhar as nuvens, interpretando suas formas.
Epicuro (341-270 a.C.) também defende o ócio tranqüilo, a conversa agradável com os amigos e os prazeres da leitura. Ele era humilde, calmo, reservado e buscava incansavelmente o prazer e a ataraxia (paz interior). Para o filósofo, os prazeres devem ser evitados, pois o romance caminha de mãos dadas com as amargas decepções.
Nos dias de hoje, o princípio do prazer é interpretado de maneira bem diferente. Ou seja, o epicurismo é sinônimo de hedonismo devasso. Esse estilo de vida é celebrado com orgias, bebidas alcoólicas exageradas, prazer em troca de dinheiro e a gulodice. Erroneamente, o epicurismo moderno ganhou essa explicação que não tem nada a ver com o conceito antigo. O pensador, na verdade, apreciava os prazeres ociosos e não a libertinagem. Ele tinha uma vida calma e contemplativa. Comia e bebia moderadamente.
Epicuro estava certo, pois nada melhor do que explorar o ócio. Não me refiro ao desânimo, a preguiça ou melancolia. Mas, sim, parar pra pensar, observar o mundo, ouvir os pássaros no finalzinho da tarde de domingo e brincar feito criança. Afinal de contas, será que as pessoas da modernidade estão usufruindo e desenvolvendo sabiamente o tempo vago? A resposta pode variar, pois devido ao grande fluxo de informações, entretenimentos e opções de lazer, diversos indivíduos preferem se divertir em bares, boates ou assistindo televisão.
O termo Indústria Cultural, criado por Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer(1895-1973), em meados dos anos 40, mostra claramente que, dia após dia, a sociedade está acorrentada pelas máquinas de abstração. Então, para fugir dessas ferramentas alienantes, adotar o epicurismo intelectual seria o melhor remédio. Essa filosofia antiga de Epicuro nada mais é do que aproveitar o tempo livre e viver a boa vida. Mas, para aplicá-la corretamente, é preciso praticar e tomar gosto pela leitura de bons livros, participar de peças teatrais ou concertos musicais, tornando-se um indivíduo culto, questionador e engajado politicamente. No entanto, nos dias de hoje, acontece o inverso. Ou seja, em horário de lazer, um trabalhador ou um jovem quer esquecer seus problemas sentados em frente à televisão ou navegar horas e horas no mundo virtual. Desta maneira, a Indústria Cultural ganha o poder de dominar e controlar a maioria dos seus cidadãos consumistas.


“Só há um caminho para a felicidade. Não nos preocuparmos com coisas que ultrapassam o poder da nossa vontade”. Epicuro

20 de agosto de 2008

O enigma



Tela: Salvador Dali

Meu silêncio foi guardado durante dois dias. Na manhã seguinte resolvi abrir os ouvidos, se bem que ainda me mantive calada. Claro que havia coisas esquisitas acontecendo. Entretanto, fingi que tudo isso era coisa da minha imaginação. De repente, senti uma mãozinha fria tocando a ponta dos meus dedos e, quando ouvi cada frase pronunciada, um gelo foi rompido do meu peito.
O anão estava sentado do meu lado e cochichava, zombeteiro, sobre a solidão que invadia todo o ambiente:
- O silêncio, às vezes, nos tiraniza. Mas, na verdade, nos encontramos apenas sós e não sozinhos - pronunciou o presunçoso anão.
- Eu me sinto tão sozinha - pensei.
- Eu também tenho dessas coisas, mas logo ali na frente tem um portal. Dizem que para chegar até ele é preciso percorrer um espinhoso caminho. Porém, a solidão não existe nesse lugar e a alegria é eterna - o anão disse todas essas palavras com um leve sorriso aveludado.
De imediato, confesso que o anão parecia um telepata. No entanto, achei melhor não acreditar nisso. Porque é impossível alguém adivinhar com tanta convicção o que passa na cabeça do outro.
- Bom, Jocasta, o que eu tenho a te dizer é que adivinhar os pensamentos não é uma tarefa impossível - afirmou o anão.
Meus olhos se arregalaram de tanto espanto. Então, passei a suspeitar dos meus próprios pensamentos, que procuravam insistentemente me morder.
- Jocasta? De onde você tirou isso? - perguntei enraivecida.
O anão em vez de rir, uivou igual aos cães que acreditam em fantasmas.
Nesse momento, um calafrio medonho percorreu minha pele. O silêncio reinou novamente naquele lugar e o anão desapareceu - como se fosse uma poeirinha cósmica no espaço.
Intrigada, fiquei me perguntando quem seria Jocasta. E uma voz baixinha me respondeu telepaticamente:
- Jocasta era casada com o rei de Tebas, Laio, e mãe de Édipo. Laio recebeu um aviso de um oráculo de que deveria matar seu filho recém-nascido, pois o garoto representava perigo para sua vida e seu trono. Então, o rei entregou a criança para um pastor e ordenou que ele a matasse. No entanto, o pastor, tomado por compaixão, não teve coragem de tirar a vida do pobre menino. Mas, não querendo desobedecer por inteiro a ordem imposta, resolveu amarrar a criança pelos pés deixando-a pendurada num galho de uma árvore. Um camponês encontrou a criança de cabeça para baixo e levou para seus patrões. O casal adotou o menino, que recebeu o nome de Édipo.
Muitos anos depois, Édipo mata seu pai biológico por engano. Isso porque Laio passeava numa estrada muito estreita. Um jovem, que também conduzia um carro, atrapalhava o trajeto do rei. Laio ordenou que aquele estranho se retirasse do meio do caminho. O jovem desobedeceu e o servo do rei matou um dos cavalos do garoto. Furioso, Édipo mata o servo e o rei Laio. Desde então, Édipo se tornou assassino involuntário do próprio pai.
Na cidade de Tebas existia uma criatura horrenda que assustava toda a população. O monstro tinha corpo de leão e cabeça de mulher. Ele aterrorizava todos os viajantes que passavam pelo caminho. A criatura deixaria os viajantes passarem sãos e salvos só se eles decifrassem o enigma.
No entanto, Édipo não se deixou intimidar e aceitou o desafio. Então, a Esfinge sentada no alto do rochedo, perguntou:
- Qual é o animal que de manhã anda com quatro pés, à tarde com dois e a noite com três?
Astuciosamente, Édipo responde:
- É o homem. Ele engatinha na infância, anda ereto na juventude e precisa de bengala para caminhar quando chega a velhice.
A Esfinge ficou tão envergonhada que se matou pulando do alto do rochedo. Como prêmio, a população de Tebas fez de Édipo rei da cidade. E a rainha Jocasta se tornou sua esposa. Depois de alguns anos, Édipo resolve procurar um oráculo que revela o seu duplo crime. Pois além de ter matado involuntariamente seu pai, casou-se com a rainha, tornando-se marido da própria mãe. Quando Jocasta fica sabendo de tal revelação se suicida e Édipo, enlouquecido, arranca os próprios olhos.
Depois de ouvir essa trágica história, minha respiração ficou ofegante. Sozinha encontrei-me de novo e o zumbido do telepata já tinha evaporado. Não consegui desvendar o enigma - como fez Édipo. E a mensagem ilusionista ainda permanece oculta no meu abismo...


9 de agosto de 2008

TEMPORAL




Sopram os ventos frios
nessa noite tempestuosa.
O mensageiro, Hermes,
trouxe boas lembranças.

Muita alegria, amor e afeto
são expressados em
poucas palavras e
a felicidade se esconde
sob a água transparente.

De repente, as nuvens
se tornaram mais escuras
e pesadas. O brilho ficou
opaco e a criatura solitária
busca refúgio na luz das estrelas.

A voz triste
é engolida numa prece
abafando o fragor da tempestade....


20 de julho de 2008

Trágico romance



Tela: Sir John William Waterhouse

O sussurro apaixonado
era ouvido e falado
por dois amantes
enamorados.

Cegos por esse sentimento
Se lamentavam a todo momento
do desejo proibido
que logo fariam julgamento.

Em vez de escolherem
a aurora vital,
optaram pelo crepúsculo
mortal.

Larissa Araújo

O romance dá início quando o outro passa a lhe pertencer inteiramente. Desde então, começamos por enganarmos a nós mesmos e, conseqüentemente, enganamos as pessoas mais próximas. Coisas que eram relativamente simples ganham novas inspirações. Até os sons longínquos dos ventos são capazes de nos comover.
A história de amor nasce quando dois corações batem em um só. As almas apaixonadas se embelezam de tanto afeto. No entanto, por trás de tudo aquilo que é encantador e mágico encontra-se sempre a odiosa tragédia.
A partir de tal revelação, dois jovens chamados de Píramo e Tisbe provam um amor jamais visto. Píramo era o mais belo rapaz e possuía um tímido sorriso – que brincava prazerosamente em seus lábios. Tisbe era a donzela mais linda de toda a Babilônia. Ambos sabiam que um dia a juventude iria desaparecer e com ela a sua beleza. Porém, nada disso aconteceu. O que houve, na verdade, foi à morte prematura.
Cada dia que passava era o mais próximo do terrível drama. Entretanto, eles não desistiam dos preciosos minutos que estavam juntos. Seus pais eram vizinhos e não aceitavam o namoro dos dois. Eles se comunicavam através de sinais ou trocavam olhares furtivos. Ninguém poderia saber desse romance e, por isso, ele se tornava mais intenso. Depois de alguns dias eles descobriram uma brecha na parede que separavam as duas casas. Essa pequena fenda permitia a passagem de suas vozes. Imagine só, quantas juras de amor passaram por essa fenda?
Quando a noite aproximava, os dois amantes apertavam bem forte os lábios contra a parede e, num suspiro, diziam adeus. Assim, era o agonizante amor de Píramo e Tisbe. Porém, eles decidiram se encontrar escondido no meio da noite. Tisbe cobriu a cabeça com um véu e fugiu cautelosamente de seus familiares. Chegando próximo do lugar combinado a ninfa avistou uma leoa e se escondeu atrás de uma gruta. Depois que o felino foi embora a donzela se dirigiu para o bosque e, por descuido, deixou o véu cair.
Atrasado, Píramo chega ao local e vê o véu de sua amada todo ensangüentado. Ele concluiu que Tisbe fora devorada por alguma fera. No auge do desespero, o jovem desembainhou sua espada e desferiu o próprio peito. Tisbe retorna ao local e, quando vê seu amado morto, resolve morrer junto com ele.

13 de julho de 2008

Irmãos siameses: Astros e a mitologia


Os personagens mitológicos não ocupam um lugar estático em nossa herança cultural. Pelo contrário, essas figuras possuem ferramentas poderosas para o conhecimento filosófico, cultural e até mesmo para nossas ânsias mais ocultas.
A mitologia teve tanta influência no mundo que até planetas como Mercúrio, Plutão, Vênus, Marte e dentre outros, receberam nomes de divindades gregas. Por isso que os areógrafos – estudiosos que pesquisam aspectos físicos dos planetas – usaram características externas das figuras mitológicas como inspiração.
Um exemplo é o planeta Marte. Ou seja, esse astro surpreendeu os povos primitivos devido a sua coloração avermelhada. Porém, na mitologia, Marte ou Ares (do grego Aro, matar) representa uma divindade guerreira, cujo símbolo é a união da lança e o escudo. Essa coloração avermelhada do planeta é produzida pelas enormes extensões de solo árido – desertos – que existem em sua superfície (MOURÃO, 1935).
Outra figura mitológica que inspirou os astrônomos foi à deusa Vênus ou Afrodite. Ela simboliza a beleza e o amor. De acordo com os mitos gregos, essa divindade nasceu das espumas do mar e sua representação, para as mentes primitivas, era um círculo e um traço reto. Porém, na Idade Média, o logotipo da deusa passou a ser designado por esse símbolo , que se assemelha a um espelho – instrumento típico utilizado por mulheres vaidosas.
Para os astrônomos, o planeta Vênus é o mais belo de todos os astros. Pois ele é muito luminoso e brilhante no céu, depois, é claro, do Sol e da Lua.
Em certas épocas do ano, Vênus começa a aparecer pela manhã. A partir de tal aparição, o astro é denominado pelo nome de Estrela Matutina ou Estrela D’Alva.
Ao observarmos esse planeta, notamos que Vênus se parece com uma meia-lua ou lua crescente. Segundo ao autor Ronaldo R. de Freitas Mourão, em seu livro de Ouro do Universo, “Vênus é o segundo planeta a partir do Sol, colocado entre Mercúrio e a Terra. Sua órbita é, portanto, inferior à do nosso planeta. Quando Vênus se coloca entre o Sol e a Terra, ela desponta com uma Lua em fase crescente. Mas, ao contrário, quando está do outro lado do sol, parece um pequeno disco muito iluminado ”.
Os principais obstáculos para os trabalhos astronômicos em investigar esse planeta são os excessos de nuvens em sua superfície e a grande proximidade que Vênus tem em relação ao Sol.
A pressão atmosférica desse planeta é totalmente desconhecida. No entanto, mesmo com todas essas dificuldades, os cientistas se interessam, cada vez mais, por esse fascinante planeta.

23 de junho de 2008

FOFOQUEIRAS NÃO, BEM INFORMADAS

Sentadas no banco da praça de uma cidade do interior, três vizinhas aproveitam o finalzinho de domingo para fofocar. Todos ali se conhecem. Porém, as pessoas mais devassas, namoradeiras e cachaceiros são as figuras que mais têm "fama" na pequena cidade.

As línguas afiadas das vizinhas não perdoam ninguém, nem mesmo o coitado do padre. Logo após o padre Pedro ter cumprimentado as três fofoqueiras, a primeira mulher deu um tapinha na perna da outra e começou a comentar:

- Sabe o padre Pedro? Pois é, eu ouvi falar que ele anda freqüentando a casa da Rosalinda.

- Ah, minha nossa senhora isso não pode ser verdade – afirma a segunda vizinha indignada.

- É, eu também ouvi essa conversa – diz a terceira mulher – e ainda me disseram que ele vai na casa dela toda terça e sexta-feira.

- Minha virgem Maria, mãe de Jesus, eu não quero acreditar numa história dessas – diz a segunda fofoqueira.

Rosalinda era a mulher mais mal falada da cidadezinha. Depois que o marido a abandonou ela nunca mais foi a mesma. Todas as noites ela enche a cara e volta para casa sempre acompanhada, só que cada dia com um homem diferente.

As fofoqueiras caíram na risada. No entanto, a terceira mulher, considerada a mais bem informada de toda a redondeza, parou de gargalhar, respirou fundo e disse:

- Me contaram outras coisas sobre essa mulherzinha. Pelo que sei, o prefeito vai na casa dela toda segunda e quinta-feira. E fica lá horas e horas. Já na quarta e no sábado é a vez do borracheiro. Eu acho que no domingo nenhum homem vai visitá-la. Afinal, ela precisa descansar pelo menos uma vez na semana.

A segunda fofoqueira, que fingiu o tempo todo de desentendida, resolveu participar da fofoca:

- Eu não queria falar, mas é que minha língua está coçando...

- Fala! Fala! Fala! – gritaram a primeira e a terceira mulher.

- Tudo bem, tudo bem eu vou falar. É que a Rosalinda teve um filho esses dias – afirma a segunda vizinha.

- Vixe. E quem é o pai? – perguntou a primeira fofoqueira.

- Ninguém sabe. O pior é que fizeram o exame de DNA do padre, do prefeito e do borracheiro, mas nenhum deles são os pais. Porém, o menino se parece com cada um dos três homens.

A terceira vizinha caiu na gaitada e disse:

- Ah, eu sei quem é o pai. É o Tiquim.

- TIQUIM? – perguntou a primeira mulher.

- Sim. TIQUIM de um, TIQUIM de outro...


(Edição especial sobre "Crônicas do cotidiano")


Dia errado

Na verdade o título deveria ser dia do azar. Não acredito em superstições. Porém, em plena segunda-feira, acordei com o pé esquerdo. Tudo deu errado. Eu ainda estava deitada e escutando um barulho distante. O som era de uma galinha desesperada que protegia seu ninho. Achei que era coisa do meu inconsciente ou, talvez, um sonho. Mas era a droga do meu despertador cacarejando no meu ouvido – devo confessar que esse despertador tem um som estranho mesmo. Meus olhos abriram e fecharam lentamente e, por alguns segundos, esqueci do mundo. Sonhei com algodão-doce, viagens, nuvens cor-de-rosa, deuses mitológicos, ninfas, duendes (que pareciam extraterrestres), unicórnios e até gato preto. Quando vi os olhos brilhantes do felino, quase caí da cama. Levantei num salto e fui rodopiando até o banheiro. Meu coração estava à mil por hora e parecia que a casa toda girava.
Puxa! Eu só tinha 13 minutos para me arrumar e não perder o ônibus. Vesti a roupa, não escovei os dentes e muito menos penteie os cabelos. Bom, depois de todo esse esforço consegui abrir o portão e, para minha infelicidade, assisti lá da rua todos os passageiros do ônibus de Nerópolis me mandando tchauzinho. Não queria acreditar, mas eu tinha acabado de perder o ônibus.
Então, já que o coletivo havia passado direto e o próximo só viria daqui meia-hora, fui em casa tirar a remela dos olhos. Nesse momento vários pensamentos ruins rondaram minha cabeça e até desejei o mal para o coitado do motorista. Me arrependi por ter pensado nisso, mas minha vó dizia que, quando sentimos culpa de algo, devemos bater na madeira. E foi exatamente isso que eu fiz – os povos primitivos pagãos também tinham esse costume. Ou seja, para eles as árvores eram a morada dos deuses e, quando alguém batia na madeira, era para invocar as divindades e pedi perdão.
Fui correndo lavar o rosto. E, quando olhei no espelho, minha blusa estava do lado do avesso. Durante alguns minutos de reflexão, senti um medo tremendo dessas superstições e crenças.
No entanto, eu não poderia perder mais tempo. Lavei o rosto e vesti a blusa do lado certo. Finalmente, consegui chegar no ponto de ônibus. Para variar, havia uma companhia não muita agradável naquele lugar. Educadamente, falei bom dia. Ele respondeu fazendo um gesto só com os olhos. Logo percebi que o homem estava bêbado.
- Era só o que me faltava – pensei.
Lá no setor todos chamam ele de Zoim. Então, ele desabafou:
- Sabe, hoje meu dia não começou muito bom.
Eu não estava com a mínima vontade de conversar com um bêbado. Mesmo assim, ele continuou a dialogar:
- Que horas são? É que meu relógio parou.
Vixe. Pensei: dizem que qualquer objeto que não tem mais utilidade e a pessoa continua fazendo uso dessa coisa dá azar.
- São sete e trinta e cinco – respondi.
O ônibus estava atrasado e eu não via a hora de me livrar daquele papo. Porém, Zoim falou decidido:
- A parti de hoje, eu não bebo mais.
Claro que eu fiquei com pena, pois todos que o conhecem sabem que ele é um alcoólatra e várias vezes seus familiares tentaram interná-lo. Entretanto, nada disso adiantou.
- Lá vem o ônibus – Zoim resmungou.
- Graças a Deus – pensei.
O coletivo estava entupido de tanta gente. Me senti como uma sardinha enlatada. Mas tudo bem. Pelo menos eu chegaria a tempo no trabalho. Detalhe: atrasei dez minutos. Por causa desses míseros minutos, o porteiro não me deixou entrar. Se ele soubesse a dificuldade que enfrentei, com certeza, ele sentiria pena. Claro que eu sabia dos quinze minutos de tolerância. Mas, segundo o porteiro, as regras da empresa mudaram. E, quase chorando, perguntei:
- O que vou fazer agora?
Então, o porteiro respondeu:
- Ué, você pode voltar amanhã.


(Edição especial sobre "Crônicas do cotidiano")


26 de maio de 2008

Aurora musical


Os deuses imortais
cantam alegremente.
Pássaros exaltam os sons
dos acordes celestiais.

Diversos seres
dançam suavemente
E todo universo se envolve
com o ritmo das notas musicais.

Larissa Araújo

Antes de mergulharmos na história mitológica da música, é importante ressaltar que vários pensadores gregos, como Pitágoras, construíram teorias mais convincentes do que qualquer outro povo da Antiguidade.
No século VI a.C, o grego Pitágoras imaginava que a música e a Matemática fornecia a chave mágica que poderia abrir o cadeado secreto do mundo.
Sua teoria era que diversos planetas e até mesmo o universo cantavam. Porém, cada um com tons harmônicos diferentes.
Pitágoras criou o monocórdio (corda única) para determinar, através da matemática, as relações dos sons.
No entanto, para a mitologia, a história da música começou com a morte dos Titãs. Ou seja, após a vitória dos deuses do Olimpo sobre Saturno, Oceano, Hipérion, Iapeto, Ofíon, Têmis, Mnemósine, Eurínome e Réia foi sugerido a Zeus que criasse deuses capazes de cantar divinamente a glória dos Olímpicos.
Então, Zeus apoderou-se da bela Mnemósine, deusa da memória, e teve com ela nove filhas. Nasceram, no devido tempo, as nove musas: Calíope (musa da poesia épica), Clio (da história), Euterpe (da poesia lírica), Melpômene (da tragédia), Tersícore (da dança e do canto), Érato (da poesia erótica), Polínia (da poesia sacro), Urânia (da astronomia) e Talio (da comédia).
As nove musas alegravam os festejos do Monte Parnaso, na Fócida, e cantavam com Apolo - deus da música.
Entretanto, existem vários deuses que também fazem parte da história da música como Museo, filho de Eumolpo, a lenda diz que quando o deus tocava ele consegui curar doenças. Outro músico de destaque é o deus Orfeu, filho da musa Calíope e Apolo, além de músico era cantor e poeta. Por fim, Anfíon era um magnífico poeta e músico - filho de Zeus e de Antíope - o deus construiu os muros de Tebas e, segundo as fábulas, quando as pedras ouviam o som da lira se moviam sozinhas.

25 de maio de 2008

O código de Hamurabi


Fonte
www.nonaarte.com.br


Saiba mais:

Quando em 2025 a.C. os amorreus invadiram a Mesopotâmia, fizeram de Babilônia a capital do reino. As obras de arte revelam que os amorreus eram fisicamente diferentes de seus antecessores. No período amorrita, armazenaram-se mitos antigos, velhas epopéias, textos medicinais e escritos astrológicos. Graças aos escribas, o mundo tem conhecimento de dicionários e legislação da­quele glorioso período.

Evidente personagem da Antigüidade, Hamu­rabi (Khamu-Rabi – sécs. XVIII e XVII a.C.), sexto rei da I Dinastia Babilônica, reinou de 1728 a 1686 a.C., aproximadamente, caracterizando-se como verdadeiro criador do Império Babilônico, guerreiro, político e legislador. No início do séc. XVII a.C., o rei Hamurabi enfrentou uma coalizão de helanitas, assírios e outros, quando ocupou a região ao longo do Tigre até a Assíria, apoderou-se de Sarsa e de Mari, conseguindo a unificação da Babilônia Meridional.

Com ele, a Babilônia tornou-se herdeira de toda civilização sumério-acádia. Resgatou-a, respeitando seu enraiza­mento, expandiu-a, deixando nela suas marcas, e fazendo da Babilônia uma grande metrópole espiritual. Fundiu a religião dos semitas e sumérios, sobrepondo as figuras divinas afins. Restaurou os mais importantes templos do país e no palácio real de Mari, por ele terminado, encontrou-se, recentemente, 20 mil tábuas de argila com escrita cuneiforme.

A Hamurabi cabe a coleção de legislação mais antiga que se conhece, monumento jurídico da Antigüidade Oriental, universalmente nomeada como o Código de Hamurabi. Encontrado nas ruínas da acrópole de Su­sa, em 1901, e proveniente do templo do sol, de Ebbara, em Sip­par, o monumento com seu código possui 46 colunas e 3.600 linhas, gravado em uma estrela cilín­drica de basalto negro, onde ele é representado adorando Shamash, o deus Sol, de quem recebe o espírito de eqüidade e justiça, em ato de sub­missão e atenção. Shamash tem em sua mão esquerda um pequeno cetro e um círculo, símbolo do ciclo dos tempos regulado pelo sol e acima dele se desprende dois feixes de luz.

O Código de Hamurabi prescrevia pena idêntica à ofensa praticada, Lei de Talião, numa concepção jurídica inflexível, que lembra a do Antigo Testamento e que se revela como testemunho de sua preocupação pela vida e bem-estar de seus súditos, garantindo a todo homem igual direito à justiça. Abrangiam toda atividade profissional com honorários e punições regidos por lei, como também a conduta de uma pessoa para com a outra, quando especifica que “se um homem destrói os olhos de outro, seu olho deve ser destruído”.
A prática médica recebe 10 pequenas disposições com valores de pagamento e punições por imperícia. Nelas, Hamurabi coloca sua preocupação em harmonizar os costumes, gerando para cada classe social diferentes comprometimentos, “10 moedas de prata para remoção de tumor com faca e curar seus olhos, 5 se for filho de plebeu e, se escravo, o dono pagará 2 moedas”. Com relação às punições, “sua mão deverá ser cortada se o paciente morrer ou ter seus olhos destruídos na remoção de tumor com faca”, ou “se o médico, tratando o escravo de um plebeu com uma faca por um severo ferimento, lhe causar a morte, deverá pagar escravo por escravo.”

A medicina babilônica justapõe os primeiros elementos de uma interpretação científica das doenças aos pro­ce­dimentos mágico-religiosos. Sob o conhecimento empírico ba­bi­­lô­­ni­co, pela primeira vez, começa-se a relevar os sintomas das doen­ças. Porém continuava a prática de conjuração dos demônios, paralelamente à sistematização astronômico-astrológica da medicina. Seus conceitos de astrologia foram usados na medicina greco-romana, arábica e no período medieval. A profissão médica, como a entendemos, não existia e só começará a aparecer no Antigo Egito.

Fonte: Berta Ricardo de Mazzieri é museóloga do Museu Histórico da Faculdade de Medicina da USP.
http://www.cremesp.org.br/revistasermedico/sermedico010203_2002/historia_medicina.htm

18 de maio de 2008

O Nome da Rosa

Para quem leu "Sonho Lendário II" vai lembrar da citação que fiz do livro "O Nome da Rosa", de Umberco Eco.
Para descontrair, segue abaixo a tirinha:


Fonte
www.nonaarte.com.br

15 de maio de 2008

11 de maio de 2008

A doença de Josef Fritzl



Tela: Salvador Dali

O mito de Narciso é conhecido universalmente. De acordo com a lenda, o deus nasceu com uma beleza inigualável e, por causa de uma maldição, apaixonou-se pelo seu próprio reflexo. No entanto, diversas pessoas não vêem ou não percebem que o mito de Narciso ainda está vivo e presente em cada um de nós.
Narciso vem do grego Narkissos, que significa entorpecimento ou torpor, do qual originou a palavra narcótico (entorpecente). O termo Narciso é freqüentemente usado como pejorativo para designar vaidade ou egoísmo. Quando se refere a um grupo social, o conceito narcisismo ou narcisista aparece para se referir a comunidades elitistas, etnocentristas ou que se julgam superiores.
Porém, todos nós estamos procurando constantemente pelo nosso reflexo. Isso inclui a admiração, o reconhecimento pelo que somos e o progresso que construímos. Entretanto, quando esse auto-amor é exagerado, a compaixão pelo outro desaparece.
Narciso ficou louco e morreu. Isso porque seus olhos ficaram presos na sua imagem refletida nas águas e, ao se recusar comer, Narciso se suicidou.
Tal descoberta fez com que vários psiquiatras, psicanalistas e psicólogos utilizassem essas características patológicas de Narciso para designar outros transtornos. Surgindo, então, a Síndrome do Narcisismo Maligno ou Personalidade Perversa.
A estrutura narcisística do psicopata se encaixa perfeitamente com o comportamento do austríaco Josef Fritzl – acusado de prender a filha Elizabeth, durante 24 anos, num porão. Segundo o criminologista e psicólogo Thomas Muller, Fritzl apresenta sintomas típicos de “narcisismo maligno”.
Sem dúvidas, Fritzl foi cruel. E, através de sua eloqüente inteligência, mentiu para o mundo todo sobre o desaparecimento de Elizabeth. Sua criatividade era interminável e a gravidade da situação também. Creio que, para Fritzl, tudo está perdido, pois indivíduos que apresentam essa personalidade não sentem nenhum tipo de culpa, vergonha e arrependimento. Ao contrário, manipulam pessoas com recursos enganosos, procuram excessivamente elogios por parte dos outros e, o principal, os laços de amor entre familiares não existem nesses psicopatas.
Infelizmente, os sintomas de Narciso sempre viverão dentro de cada pessoa. Claro que esse sentimento é ruim, pois através dele que surge o preconceito e o racismo. Quando seguimos apenas nossos reflexos, assim como no mito, nos suicidamos em guerras e excluímos o outro por ser diferente.
Talvez exista alguma esperança, pois a lenda de Narciso dizia que ele era descendente das águas e esta simbologia significa fecundidade e renascimento. Quem sabe, após tal reflexão, possamos renascer para o progresso de um mundo melhor e termos a sabedoria de identificar no outro a importância do seu valor como ser humano.

27 de abril de 2008

Sonho Lendário II

Acordei assustada com o barulho do despertador. Por alguns minutos, refleti sobre esse sonho tão maluco. Eu ainda conseguia ouvir a voz de Zeus e tremia só de lembrar daqueles olhos tão expressivos. Tentei levantar da cama, mas meu corpo estava muito cansado.
Fechei os olhos novamente e, mais uma vez, peguei no sono. Fui voando para o Monte Olimpo. Meu corpo era leve como plumas flutuantes. O pôr-do-sol, na morada dos deuses, era magnífico. Lá estava eu, de novo, me preparando para bater na porta de nuvem. Mas antes disso acontecer, as deusas Estações abriram a porta para se despedir dos deuses. Fiquei triste, pois eu sabia que, sempre no final do dia, os imortais iam embora para suas casas. Alguns moravam na Terra, nas águas ou embaixo do mundo. Acabei desistindo de ir até o palácio. Então, fui caminhar num bosque desconhecido. Desci por uma gruta situada ao lado do promontório de Tenaro e cheguei ao reino do Estige. Esse lugar me recorda um livro muito conhecido, “O nome da rosa”, de Umberto Eco, onde vários assassinatos aconteciam em um mosteiro sombrio e medonho.
Claro que no reino do Estige não havia assassinato, pois a multidão que eu acabara de ver era das trevas. Ou seja, todos eles já estavam mortos. Inúmeros fantasmas vieram me perguntar sobre a vida de várias pessoas que moram na Terra. Mas um espectro, acuado em um canto escuro, me chamou atenção. Reparei que ele possuía um broche com um símbolo nazista.
Homero passou as mãos frias em meus cabelos e sussurrou no meu ouvido dizendo que, aquele no canto, era o Hitler. Nunca pensei em encontrar Hitler no reino de Hades, pois ele sempre afirmava que, quando morresse, iria para o palácio de Valhala. No entanto, só os corajosos guerreiros, mortos em combate, são escolhidos por Odin - na mitologia Nórdica, significa senhor da magia e deus da sabedoria - e, quando selecionados, podem desfrutar dos festins, das bebidas de hidromel, fornecida pela cabra Heidrum e da carne do javali Schrinnir. Pelo jeito, Hitler não teve escolha ou, por assim dizer, não foi escolhido por Odin.
Depois que passei pela multidão de almas, apresentei-me diante do trono de Hades (Plutão) e Prosérpina (Perséfone). Eles fizeram um gesto imperceptível com a cabeça, logo percebi que os deuses estavam hipnotizados com a música de Orfeu. O som da sua lira encantava diversos seres, que se reuniam em torno dele em transe. Nesse momento, todos os fantasmas choraram, o abutre parou de despedaçar o fígado de Prometeu, as filhas de Danaus descansaram do trabalho de carregar água, as faces das Fúrias se umedeceram, Argos fechou seus cem olhos, Sísifo sentou-se em seu rochedo para ouvir a melodia e eu adormeci no meu próprio sonho...

22 de abril de 2008

Sonho Lendário I

Sonhei com um palácio gigantesco. Ele ficava bem no topo do Monte Olimpo. Bati em uma porta de nuvem e várias deusas chamadas de Estações me desejaram boas vindas. Bem no centro do salão, sentado em seu trono, eu vi o rei Zeus. Ele acenava e convidou-me para participar do banquete. Naquele instante, eu era imortal e digna de poderes divinos.
A deusa Hebe, veio sorridente em minha direção e fez um gesto com a bandeja, que continha néctar. Talvez, por curiosidade ou sede, tomei toda a bebida. Sem dúvida, o líquido adocicado era de ótima qualidade. É claro que não deixei de experimentar todas as iguarias.
Os deuses me olhavam torto - devia ser por causa da minha roupa, pois eu estava usando uma calça jeans, a blusa era um pouco decotada e a sandália rosa pink. Percebi que a deusa Minerva me observava e logo fez um gesto com as mãos. Já sabia que ela queria conversar, então, levantei e fui saltitante ao seu encontro.
No entanto, não gostei da crítica que ela fez da minha roupa. Mas, de imediato, compreendi que a deusa estilista confeccionava túnicas e diversas peças dos vestuários de quase todas as deusas.
Deixei ela à vontade e, em questão de segundos, eu estava com uma roupa de seda novinha. Minerva ainda questionava sobre meu modelito, dizendo que o pano do vestido que eu usava era verde com detalhes dourados. Logo essas cores não combinavam com a minha sandália rosa pink. Pensei que ficaria descalça, mas ela me apresentou o Vulcano (Hefesto). O deus aparentava seriedade e era conhecido pelas seguintes profissões: arquiteto, ferreiro, armeiro, construtor de carros, artista de todas as obras do Olimpo e, o principal, ele fazia sandálias de ouro.
As sandálias eram mágicas, ou seja, os imortais poderiam caminhar tranquilamente sobre a água ou ar e se mover de um lado para o outro, com a velocidade do vento ou a força do inconsciente.
Achei estranho caminhar com aquelas sandálias. A Minerva batia palmas de tanta alegria e admiração. Eu me achei feia, mas, por enquanto, deveria me adequar àquela cultura. Voltei para o salão e ouvi a triste história do Rei.
Zeus, pai dos deuses e dos homens, possuía uma expressão serena que brilhava como um poder cósmico. Porém, ele teve uma vida difícil. Seu pai, Saturno (Cronos), e sua mãe, Réia (Ops), pertenciam à raça dos Titãs e surgiram do caos. Saturno era um monstro que devorava os próprios filhos. No entanto, Zeus foi o único que fugiu desse destino.
Já crescido, procurou a deusa Métis (Prudência), cujo poderes medicinais fizeram Saturno vomitar os irmãos de Zeus.
Um sorriso enigmático brotou no canto da boca do Rei. Percebi que ele me olhava esquisito. Bom, eu já tinha lido sobre a sua fama de sedutor e conhecia também a ira e o ciúme possessivo de Hera (Juno). Ainda bem que a deusa não percebeu aquela troca de olhares furtivos...


3 de abril de 2008

Circe, a malvada



Tela: Wright Barker

Circe, a célebre bruxa, desempenha um papel importantíssimo no livro de Homero (Odisséia). A história narra a viagem e as dificuldades que Odisseu (Ulisses) enfrentou antes de regressar para sua ilha Ítaca. E uma de suas paradas foi no palácio da feiticeira Circe, filha do sol.
Sob comando de Ulisses, seus companheiros foram em busca de hospitalidade. Nas redondezas do palácio encontraram diversos animais que, por natureza, deveriam ser selvagens. Mas os leões, tigres e lobos eram tão mansos que pareciam gatinhos indefesos. Não dando importância aos “bichinhos”, os companheiros do herói entraram no palácio. A deusa serviu a todos com bebidas e iguarias. Detalhe: a tripulação de Ulisses não sabia que Circe era feiticeira e tomou um licor encantado. Os corajosos aventureiros foram transformados em porcos. Eurícolo conseguiu fugir da armadilha. Apressou-se em voltar para o navio e relatou aquilo que vira. Ulisses dirigiu-se até o palácio e convenceu a bruxa para que desfizesse todo o feitiço. Logo, o herói trouxe seus soldados de volta para os navios sãos e salvos.
Essa foi à história narrada por Homero, mas o pensador La Fontaine conta uma versão totalmente diferente. Ou seja, através de suas fábulas, o escritor tomou como tema a mitologia clássica e reconstruiu, de modo reiventivo, muitas dessas lendas. E uma delas diz respeito aos companheiros de Ulisses (lenda já citada acima). A diferença é que seus amigos foram metamorfoseados em ursos, leões e lobos. Porém, eles se recusaram voltar à espécie antiga. A explicação de um dos homens que fora transformado em rei das selvas foi a seguinte:

“Perder garras e juba?
Posso com estas presas
A postas reduzir
A quantos temerários
Me ousarem agredir.
Rei sou – voltando a homem,
Também volto a soldado.
Para ser simples vassalo,
Não vão me mudar de estado.”

Ulisses ficou perplexo, mas não desistiu das perguntas. Dirigiu-se ao urso e tentou convencê-lo a voltar sua forma anterior. O urso respondeu irritado:

“Não vês que sou urso!?
Eu tenho o feitio que Deus dar-me quis,
Quem acha dos homens mais bela a figura?
Quem é que da nossa te arvora em juiz?
Oh! Deixe-me; vai-te; prossegue o teu rumo.
Se – sob este aspecto – não gostas de mim
Eu vivo contente, sou livre e não sinto
Tirar-me o sossego, pensão, nem cuidado;
Rejeito a proposta; não mudo de estado.”

Sua última pergunta foi para o lobo. Pediu para que abandonasse a floresta e se despisse da pele nojenta. O lobo respondeu uivando:

“Ai, que vai torta!
Já se viu maçada igual!
Quem és tu, que ousas tratar-me
De carnívoro animal?
Quem deste modo me increpa
Pouparia as ovelhinhas?
Se eu homem fosse, as poupara,
Menos, que as feras daninhas?
Por uma palavra, às vezes,
Não vos matais mutuamente,
Fazendo o papel de lobos,
Perdendo os foros de gente?
Eu penso, por fim de contas,
Que, malvado por malvado,
Melhor é lobo, que gente
Não quero mudar de estado.”

Assim, como na mitologia clássica, o fantástico mundo das fábulas também traz várias lições de moral. Ulisses termina a história frustrado por não ter trazido seus amigos de volta para o estado físico original. Então, ele deixa uma mensagem interessante:

“Torna-se em homens,
Quem diz? Não querem,
Ser sempre fera
Todos preferem
Matar a fome
Seguir o instinto
Vagar das selvas
No labirinto;
Eis as delícias
Da estulta grei
Surda a incentivos
Rebeldia à lei
Julgam ser livres
Nas solidões
Cevando, as soltas,
Brutais paixões.
Curto bestunto
De bichos bravos!
Dos próprios vícios
São mais que escravos.

As fábulas contêm milhares de ensinamentos. Através delas você identifica a cobiça, vaidade, preguiça, mesquinhez, avareza e a corrupção. La Fontaine usa os bichos como protagonistas em seus textos morais.
Na visão satírica do pensador francês, a mensagem deixada pelos companheiros de Ulisses foi que, para eles, é melhor ser bicho. Isso porque os aventureiros temiam perder a força animal que adquiriram com a transformação.
Os soldados sonhavam com a liberdade. Ou seja, sendo senhores da floresta não precisavam mais de se preocupar em pagar pensão, trabalhar ou voltar a ser vassalos.


17 de março de 2008

João Victor na pele de Ícaro

Os últimos acontecimentos envolvendo o garoto João Victor Portelinha causaram reviravoltas e reflexões sobre a facilidade de ingressar em faculdades particulares. A história do menino de oito anos recorda um personagem da Grécia antiga, cujo nome era Ícaro. O mito de Ícaro pode ser comparado com pessoas vítimas de projetos ambiciosos.
Conta-se a lenda que esse personagem mitológico ficou famoso pela sua queda no mar Egeu. Isso porque Ícaro e seu pai, Dédalo – um dos homens mais inteligente, habilidoso e responsável pela construção do labirinto que aprisionava o terrível Minotauro –, foram condenados a prisão eterna pelo rei Midas. Então, Dédalo e seu filho iniciam uma fuga por via aérea. Depois de terem arrancado as penas de vários pássaros, projetaram asas e fixaram com cera.
Antes do vôo, Dédalo advertiu seu filho de que deveria voar não muito alto, por causa do calor do sol. Nem tão baixo, para o mar não molhar as asas. Os dois voavam e, pela primeira vez, se sentiram como deuses pensando que, talvez, tinham dominado todo o ar. Mas Ícaro, fascinado pelo esplendor do sol, se elevou em demasia no céu. Logo toda cera fixada nas asas se derreteram e o pobre garoto caiu no mar Egeu.
Que história! Acho que agora ficou mais claro de entender onde eu quero chegar. Sem sombra de dúvidas, João Victor foi vítima de sua própria precipitação. Tudo tem sua hora. Depois da fama momentânea, o surgimento de tristezas e frustrações intelectuais pode aparecer logo em seguida. O "fracasso" tem lá seus benefícios, pois ele desperta e estimula. O sucesso fácil também é bom, mas embriaga e envaidece demais as pessoas.
João Victor não tem culpa. Ele foi seduzido pelo seu sonho e topou em participar juntamente com seu pai nessa incrível aventura. Assim como Dédalo, o pai de João Victor usou toda a criatividade e preparou o vôo do seu filho para queda. A única coisa a se fazer agora é recomeçar. Só que dessa vez eles devem usar outras armas, algo que seja mais do que plumas e ceras.


1 de março de 2008

Amor impossível

Poucos mortais conhecem a história da Eco. Mas até hoje a deusa existe e está presente em nossas vidas. É possível encontrá-la em lugares distantes e solitários das montanhas. Onde vários sons, rumores, ruídos e os cantos lamentosos dos pássaros são imitados e repetidos. Ela segue todas as pessoas que caminham próximo do seu lar e brinca livremente dando nova vida as vozes que vem de longe para visitá-la. Ela se sente feliz quando ouve as crianças brincando e sempre responde seus risos alegres, mas também as assusta com os arremedos fantasmagóricos que à noite faz ressoar.
Esse é o pesadelo vivenciado pela ninfa Eco, cuja maldição terrível transformou sua vida numa tristeza sem fim. As carnes do seu corpo se definharam e desapareceram inteiramente. Os ossos viraram rochedos e a única coisa que restou foi a voz. Antes da maldição, todos os deuses e mortais eram contagiados com sua energia festiva e encantadora.
Mas num belo dia Eco despertou ira e ódio de Hera (Juno), rainha dos deuses. Tudo porque a deusa ciumenta procurava exaustivamente seu promíscuo marido - Zeus (Júpiter) - que, escondido, se divertia com as jovens ninfas.
Porém, Eco tentou salvar a pele de Zeus e deteve a deusa possessiva com sua conversa, até que as amantes fugissem para algum lugar seguro. Hera, inconformada com a trapaça, amaldiçoou impiedosamente a tagarela ninfa. E disse que a partir daquele momento ela só repetiria a última palavra que seus ouvidos escutassem.
A ninfa caminhava pelo bosque se sentindo mutilada e, quando viu passar o belo Narciso, logo compreendeu que morreria se não conquistasse seu amor. A partir daquele instante ela precisava, ao menos, vê-lo todos os dias. Era um amor platônico, irrealizado e impossível. Mas ela insistia e sonhava que, em algum momento, eles poderiam se juntar e ter uma vida feliz. No entanto, Narciso foi cruel e desprezou a pobre ninfa. Então, Eco ocultou sua dor na solidão dos penhascos e montanhas, nas cavernas e bosques, no escuro profundo das florestas e fazendas.
Os dias foram passando e Narciso não dava a mínima para o amor verdadeiro de Eco. Várias ninfas que também se apaixonaram e foram rejeitadas por ele desejaram que os deuses o punisse. A furiosa ninfa castigou completamente Narciso, fazendo ele sentir o gostinho da ânsia de uma paixão não correspondida. Assim, Narciso inicia um louco amor por si mesmo.
Certo dia, cansado e com sede depois da caça, ele curvou-se sobre a fonte para beber. Mas se surpreendeu ao ver, através da água, aqueles olhos que encontravam aos seus. Ele sorria e os lábios correspondiam e se entreabriam noutro sorriso. Ele erguia os braços e a imagem repetia o gesto. Por fim, o presunçoso deus tentou agarrar e beijar aquela incrível criatura. Mas foi tudo em vão, pois aquele ser era seu próprio reflexo. E assim, depois de vários dias sem comer e dormir, sua alma mergulhou para o reino de Plutão – deus dos mortos. As ninfas vingativas procuraram em todos os cantos o odioso corpo – prepararam até uma pira funerária com suas próprias mãos. Antes que isso acontecesse, o deus do Olimpo transformou o belo jovem numa flor branca, do qual recebeu o nome de Narciso.

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Muitas vezes relembro aquele dia

Em que fui despertada a vez primeira

Do meu sono profundo. Sob as folhas

E as flores, muitas vezes meditei: Quem era eu? Aonde ia? De onde vinha?

Não distante de mim, doce ruído

De água corrente vinha. De uma gruta

Saía a linfa e logo se espalhava

Em líquida planície, tão tranqüila

Que outro céu tranqüilo parecia.

Com o espírito incerto caminhei e fui

Na verde margem repousar do lago

E contemplar de perto as claras águas

Que eram, aos meus olhos, novo firmamento.

Ao debruçar-me sobre o lago, um vulto

Bem em frente de mim apareceu

Curvado para olhar-me. Recuei

E a imagem recuou, por sua vez.

Deleitada, porém, como que avistava

Novamente eu olhei. Também a imagem

Dentro das águas para mim olhou,

Tão deleitada quanto eu, ao ver-me.

Fascinada, prendi na imagem os olhos

E, dominada por um vão desejo,

Mais tempo ficaria, se uma voz

Não se fizesse ouvir, advertindo-me:

"És tu mesma que vês, linda criatura."

Paraíso Perdido, Livro IV

John Milton



17 de fevereiro de 2008

Celebridades da filosofia

O auge dos filósofos gregos ocorreu aproximadamente em 440 a.C. Naquela época, eles eram tratados como celebridades. Várias cidades gregas proibiam comentários filosóficos. Isso porque achavam as discussões bobas e sem fundamentos.
Só em Atenas que os intelectuais eram bem tratados e aclamados. No entanto, a inteligência das “estrelas” e os argumentos lógicos e convincentes viraram um verdadeiro modismo na cidade e os estadistas começaram a ficar preocupados com o fim da moral do Estado. Por volta de 434 a.C, o medo dos poderes sobrenaturais, misticismo e superstições foi diminuindo aos poucos. Em Atenas, os gênios da filosofia contribuíram para esse processo de libertação. Isto é, o temor aos deuses ou os objetos de adorações religiosas como ar, fogo e água foram desaparecendo. Isso se deu através dos ensinamentos da literatura, ciência, filosofia e política. Muitos professores cobravam preços altíssimos e diversos alunos desacreditavam nos deuses e até mesmo perdiam a fé religiosa. Quando chegavam a tal ponto os educadores eram acusados de sofismo venal. Ou seja, vendiam sabedoria falsa ou argumentavam com falso raciocínio induzindo ou persuadindo as pessoas ao erro. Naquele período, Protágoras causou grande alvoroço ao dizer: “O homem é a medida de todas as coisas”. E surpreendeu a todos quando duvidou da existência dos deuses. Mas é claro que os atenienses não deixaram essas ideologias passarem batidas - de imediato queimaram todos seus livros e exemplares. Como se não bastasse, mandaram Protágoras embora de Atenas.
Os intelectuais conquistaram amor e ódio de muitos atenienses. Observando todos esses conflitos filosóficos, já imaginamos como foi difícil e triste a carreira e o destino de Sócrates. Ele era uma celebridade grega e provocou a ira de Anito, líder do partido democrático de Atenas. O motivo, provavelmente, foi o modo irritante de fazer questionamentos. Além de ser uma má influência moral para os jovens e a democracia. Então, com sede de vingança, Anito achou conveniente que o filósofo deixasse Atenas ou morresse. Sócrates foi condenado a morte. Mas preferiu o suicídio tomando cicuta.
Em 399 a.C, Platão, aos 28 anos, foi um dos mais importantes seguidores do gênio suicida. Apoiou e deu continuidade às idéias e aversões do mestre pela democracia. Com certeza as obras e livros de Sócrates também foram queimados. Mas o fiél discípulo, Platão, prosseguiu com os ensinamentos do intelectual e descreveu um Sócrates a partir da sua imaginação - como se o mestre ainda estivesse vivo.
Platão sentia-se revoltado com comportamento dos políticos democratas, pois eles sempre davam razão e atendiam aos pedidos da plebe. Isto é: a plebe eram homens livres que se dedicavam ao comércio, artesanato e trabalho agrícola. Constituíam a maior parte da população grega. Segundo Platão, toda essa liberdade provocou consequências e espalhou vulgaridade nos costumes tradicionais, na moral da civilização e artes. Os padrões de conduta e gostos viraram um caos. Ou melhor dizendo: um verdadeiro "deus nos acuda".
Nos seu famoso livro A República, Platão ainda acreditava no comunismo, mas logo viu que não seria possível aplicá-lo na sociedade, pois os seres humanos, por natureza, são egoístas, interesseiros, e ocasionalmente assassinos.
Já velho, Platão fez sua última obra As Leis. Trata-se de assuntos diversos como eleições, direitos e oportunidades iguais para as mulheres. Bebidas e diversões deveriam ser regularizadas para manter a moral do povo. O Estado determinaria quais deuses deveriam ser venerados e como. Devido as novas leis a filosofia estava pronta para uma nova religião e a Grécia para um novo rei.
Platão criou a Academia e Aristóteles, o Liceu. Ele optou pelo mais belo Ginásio de Atenas, um conjunto de construções erguidas para homenagear Apolo Liceu (deus dos Pastores) cheio de flores, bosques e alamedas cobertas.
Aristóteles foi aluno de Platão e se inscreveu na sua Academia, cujo portão principal havia uma mensagem:"Que ninguém entra aqui sem a geometria". O maior interesse de Aristóteles era fazer pesquisas científicas. Uma das suas obras principais, que quase alcançou a teoria da evolução, foi Sobre a História dos Animais. No seu Tratado Sobre a Alma o intelectual definiu a alma ou psiquê como "os poderes de nutrição, crescimento e decadência de um organismo".
Por fim, Aristóteles agradou várias pessoas com suas idéias claras e brilhantes sobre o segredo da felicidade, a virtude da inteligência e a política como uma arte de compromisso entre as classe sociais. Ele foi ainda professor e mestre de Alexandre, o Grande.


14 de fevereiro de 2008

Fascínio mitológico

Sem dúvida nenhuma, a mitologia grega se tornou a obra mais rica, diversa e fascinante que conhecemos. Os mitos gregos ainda são temas de inspiração tanto em a literatura, paixão, arte, psicologia e costumes quanto para relações familiares, laços sociais, filosofias e pretensões políticas dos nossos tempos. Mas, afinal, o que é a mitologia? Designa o conjunto de mitos (mythos) - no vocábulo grego, é a palavra, conto, fala ou história - que pertence ao povo, civilização ou uma comunidade.
As divindades gregas são lembradas como criaturas imaginativas ou metáforas de variados livros e poesias. Sendo assim, Zeus (Júpiter) era um sedutor insaciável e digno de uma energia sexual infinita que, na maioria das vezes, atraia quase todas as ninfas. E o Cupido (Eros) era um pentelho malicioso e esperto. Que despertava, com suas flechas mágicas, excitação, loucura, amor e paixão nos corações dos homens e deuses. Esquecemos que a mitologia, naquela época, se equivalia a uma religião. Vários animais eram sacrificados para os deuses e até mesmo pessoas - o melhor exemplo fica por conta da filha de Agamenon que foi morta na viagem para Tróia. E isso tudo em troca de uma brisa favorável. Por volta de 450 a.C, essa religião convicta era cultuada pelas pessoas com objetivo de proporcionar uma vida moral para os povos: ou seja, cada casa tinha um deus, cuja missão era manter a família unida. E toda cidade também possuía uma divindade protetora.
A criatividade dos mitos gregos contaminou as tradições populares dos povos menos esclarecidos que, de certo modo, acreditavam ingenuamente em todas as lendas. Então, muitos heróis ganhavam características físicas sadias, joviais, belas e otimistas. Poderiam ser golpeados pelos adversários, mas não podiam ficar abatidos ou derrotados. Isso não quer dizer que os heróis sempre tinham finais felizes. Ou seja, a felicidade era subjugada pelas mulheres com quem se relacionavam. Portanto, as esposas ou amantes dos heróis se submetiam a grandes aventuras e às vezes entravam em enrascadas por conseqüência de suas apaixonadas devoções. Quando abandonadas, eram tomadas de ódio, loucura e desespero vingativo.


15 de janeiro de 2008

Obsessão de Apolo

As lendas mitológicas, principalmente as de romances, trazem sempre finais trágicos. Muitos episódios parecem não ter o menor sentido, no entanto, os mitos contém alguma verdade moral. Um dos romances mais surpreendentes, a meu ver, é a de Apolo e Dafne. Na narrativa, Apolo se mostra louco de amor pela bela ninfa. Cupido, filho da deusa do amor, Vênus, se diverte lançando duas poderosas flechas. Uma criada para atrair o amor, outra para afastá-lo. A primeira flecha, que acertou o coração de Apolo, era a de ouro. A segunda, que feriu a ninfa Dafne, era a de chumbo. Então, o destino de Apolo era seguir o caminho do amor impossível. Dafne corria exaustivamente de todos os homens. A deusa continuou sua fuga fugindo do obcecado deus Apolo. E, mesmo fugindo, ela o encantava. O vento acariciava cada parte de seu corpo. Ele ficava maravilhado com o balanço dos seus cabelos soltos e brilhantes.
Assim voavam o deus e a ninfa. Ela com asas de medo, ele com asas de amor.
A virgem Dafne, suplicou ao seu pai rio-deus Peneu que tirasse todas as curvas do seu belo corpo. O pedido foi aceito. Em questão de segundos, o corpo de Dafne ganhou novo formato e seus cabelos transformaram-se em folhas. Assim a bela ninfa, foi metamorfoseada em Loureiro.
Desde então, Apolo, em homenagem a deusa, utiliza as folhas de louro como coroa. O loureiro passou a ser sua planta preferida.


11 de janeiro de 2008

A vida "difícil" dos deuses


O cume do Monte Olimpo (Tessália) era habitado pelos deuses mitológicos. Está é a maior montanha da Grécia, com 2.919 metros. Eles moravam em lugares diferentes da residência de Júpiter (Zeus). Deveriam comparecer no palácio quando eram convocados pelo o rei dos deuses. No salão, era servido ambrosia e néctar, sendo o último oferecido pela deusa Hebe. Muitos deuses visitavam a morada do rei todos os dias. Ali discutiam assuntos diversos como céu e a terra. Além de se deliciarem com alimentos e bebidas, ouviam belos sons musicais de Apolo (deus da música). As deusas cantavam e acompanhavam o som da lira. Outras deusas batizadas de Estações ficavam de prontidão no Monte Olimpo, permitindo a passagem dos imortais para a Terra através de uma porta de nuvem. Antes do pôr-do-sol os deuses voltavam aos seus aposentos para dormir.