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20 de dezembro de 2008

História amarga de Eurípides



Em mais de 50 anos de teatro, o pensador grego Eurípides traçou paralelos entre a religião e a frustração psicológica humana. Além de escrever 92 peças, ganhou apenas cinco prêmios, ele foi um exemplo típico de seu pensamento brilhante e incompreendido.

O fato da mitologia ser (ou ter sido) coroada como bobagem é fato consumado. Não há fundamento nas crenças em deuses que foram adorados naquela época. O pensador Eurípides (480 e 406 a.C) observou a religião como um problema coletivo: a mitologia seria uma forma de dominação social, amedrontar pessoas com mitos era o melhor jeito de julgar diversas atitudes insanas e colocar nos ‘eixos’ a moral de cada indivíduo. Eurípides descobriu um conformismo nas crenças mitológicas – e, com recurso independente intelectual, tentou demonstrar que a religião era sempre um pré-requisito para o agnosticismo ativo. Isto é, a doutrina do agnóstico declarava o espírito humano como incompetente para conhecer o absoluto. E, por isso, qualquer coisa inexplicável, guerra ou tragédia eram sempre culpa dos deuses. As peças teatrais de Eurípides enfocam acontecimentos marcados por tensões amorosas violentas, destacando homens e mulheres possuídos por paixões platônicas ou dilacerados por atitudes trágicas. Esse desconcertante paralelo está desenvolvido em Medéia, Hipólito, As Troianas (tradução do grego e apresentação de Mário da Gama Kury), parte de uma coleção da editoria Jorge Zahar Editor Ltda. É uma das obras teatrais mais representativas de Eurípides. Os textos do artista pode ser uma porta de entrada para quem quer ter idéia sobre os mais influentes pensadores antigos. Sua análise crítica sobre o homem trouxe maior aproximação da vida cotidiana do que as obras de Ésquilo e Sófocles.
Eurípides foi o expoente questionador da religião e moral tradicional. Homem barbudo, solitário e insociável. Vivia lendo numa caverna em Salamina, ilha próxima de Atenas, passava dias inteiros sentado, a meditar. Nos olhos de Sócrates, Eurípides era o melhor dramaturgo e nunca iria ao teatro se não tivesse uma de suas peças encenadas. Dignos de um diálogo com alto potencial (para) libertar o homem de seus medos primitivos, os sofistas inspiraram Eurípedes na arte do raciocínio hábil e persuasivo. Esses filósofos desenvolveram no dramaturgo ‘moderno’ o cultivo da macumba profana: a igualdade. A idéia de direitos iguais entre homens, mulheres, escravos, senhores, cidadãos e estrangeiros, que no tempo antigo não existia, fazia parte do seu livre pensamento. Eurípides era classificado como um artista fora do padrão de sua época e, através dessas circunstâncias, se transformou em alvo de zombarias dos poetas cômicos como Aristófanes. No fim da vida, Eurípides viveu na Macedônia na corte do rei Arquelau. As escrituras relatam a morte trágica do pensador. Acidentalmente, ele teria sido despedaçado pelos cães de caça do rei.