Andarilhos virtuais...

26 de janeiro de 2010

GUERRA DAS ARANHAS



Sumi novamente. Desculpe. Bom, tenho uma explicação. Durante esse tempo desaparecida estive observando algumas aranhas. Não pense que sou estranha ou louca, mas eu realmente fiquei intrigada com a classe dos aracnídeos. Há mais ou menos dois meses, quando eu tomava meu banho tranquilamente, uma criatura com quatro pares de pernas, sem asas e antenas com corpo dividido em duas partes, parecendo dois feijões negros e na superfície ventral do abdômen existia uma bolota vermelha, lançou sua teia, que mais parecia uma seda de tão brilhante, e deslizou até a outra ponta da parede onde eu me encontrava. Meus olhos dançavam, acompanhando aquele animal invertebrado. E o que isso tem demais? Se para você é normal, para mim, não.
Ela era repugnante e, ao me encarar, com seus oito olhos, pude notar que a aranha não queria me agredir, mas continuar escorregando naquele fio transparente e firme. Até aí tudo bem. Terminei meu banho, troquei de roupa, me preparei para dormir quando, de repente, veio a ‘neura’. Pensei: E se aquela coisa peçonhenta resolver deslizar sobre minha pele à noite? Credo. Voltei correndo para o banheiro, armada com uma faca de mesa e... cadê a bicha? Ela havia desaparecido. Fechei a porta do meu quarto, coloquei um tapete tapando o buraco da porta, guardei todos os sapatos em suas caixas e tentei ficar tranqüila. Dormi. Acordei. Cochilei. As horas passavam e nada de eu pegar no sono.
Existe apenas uma coisa que me acalma nesses momentos: ler mitologia. E foi isso que fiz. Ao abrir o livro, mergulhei na história de Minerva, deusa da sabedoria, filha de Júpiter. Conta-se a lenda que Minerva saiu da cabeça do deus pronta para algum combate, pois estava revestida de armadura completa. Muito vaidosa, a deusa não aceitava que nenhum ser competisse com seus dons imortais. No entanto, uma garota se atreveu a fazer de Minerva sua adversária na arte de tecer e bordar. O material era de tamanha perfeição que a mortal transformava a lã bruta em macios cobertores, se assemelhando a nuvens.
A deusa não pôde conter o ódio e ordenou que a mesma parasse com aquela rixa. Fingindo não ouvir, a donzela continuou tecendo com habilidade. Minerva enlouqueceu e, bem do lado da mortal, colocou o fio no tear. Começou a bordar também um tecido. Porém, a mortal, cujo nome era Aracne, insultou a deusa com um bordado mostrando os principais erros dos deuses. Minerva admirou a arte, mas detestou a afronta. Segurou bem forte a cabeça da Aracne e fez com que a mesma se sentisse culpada e envergonhada por essa competição. A virgem não suportou a pressão e enforcou-se. Minerva, arrependida, desejou que Aracne voltasse a viver. Molhou-a com suco de acônito – planta venenosa utilizada na antiguidade para ungir as pontas das flechas antes de ir à caça – e rapidamente seus cabelos caíram, da mesma forma desapareceram os olhos e as orelhas. Seu corpo ficou pequeno como feijão e tão negro como piche, os dedos grudaram, transformando-se em patas, e sua cabeça encolheu. Tudo foi mudado, menos o seu dom de tecer. Pendurada com uma corda em volta do pescoço, Aracne morreu e ressucitou. Por ordem da deusa, Aracne deve permanecer para sempre a tecer seu fio suspensa nessa posição.
Por fim, o paradeiro da aranha no banheiro da minha casa ainda é um mistério. Ela poderia ser a Aracne que desfilava diante dos meus olhos com o seu dom eternizado pela deusa Minerva.



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