Tela: Waldemar Curt Freyesleben - paisagem paranaense, 1943
Existem infinitas possibilidades de aproveitar momentos ociosos como deitar na grama de um bosque ou jardim, caminhar tranquilamente pelo parque, dormir em baixo de uma árvore e olhar as nuvens, interpretando suas formas.
Epicuro (341-270 a.C.) também defende o ócio tranqüilo, a conversa agradável com os amigos e os prazeres da leitura. Ele era humilde, calmo, reservado e buscava incansavelmente o prazer e a ataraxia (paz interior). Para o filósofo, os prazeres devem ser evitados, pois o romance caminha de mãos dadas com as amargas decepções.
Nos dias de hoje, o princípio do prazer é interpretado de maneira bem diferente. Ou seja, o epicurismo é sinônimo de hedonismo devasso. Esse estilo de vida é celebrado com orgias, bebidas alcoólicas exageradas, prazer em troca de dinheiro e a gulodice. Erroneamente, o epicurismo moderno ganhou essa explicação que não tem nada a ver com o conceito antigo. O pensador, na verdade, apreciava os prazeres ociosos e não a libertinagem. Ele tinha uma vida calma e contemplativa. Comia e bebia moderadamente.
Epicuro estava certo, pois nada melhor do que explorar o ócio. Não me refiro ao desânimo, a preguiça ou melancolia. Mas, sim, parar pra pensar, observar o mundo, ouvir os pássaros no finalzinho da tarde de domingo e brincar feito criança. Afinal de contas, será que as pessoas da modernidade estão usufruindo e desenvolvendo sabiamente o tempo vago? A resposta pode variar, pois devido ao grande fluxo de informações, entretenimentos e opções de lazer, diversos indivíduos preferem se divertir em bares, boates ou assistindo televisão.
O termo Indústria Cultural, criado por Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer(1895-1973), em meados dos anos 40, mostra claramente que, dia após dia, a sociedade está acorrentada pelas máquinas de abstração. Então, para fugir dessas ferramentas alienantes, adotar o epicurismo intelectual seria o melhor remédio. Essa filosofia antiga de Epicuro nada mais é do que aproveitar o tempo livre e viver a boa vida. Mas, para aplicá-la corretamente, é preciso praticar e tomar gosto pela leitura de bons livros, participar de peças teatrais ou concertos musicais, tornando-se um indivíduo culto, questionador e engajado politicamente. No entanto, nos dias de hoje, acontece o inverso. Ou seja, em horário de lazer, um trabalhador ou um jovem quer esquecer seus problemas sentados em frente à televisão ou navegar horas e horas no mundo virtual. Desta maneira, a Indústria Cultural ganha o poder de dominar e controlar a maioria dos seus cidadãos consumistas.
“Só há um caminho para a felicidade. Não nos preocuparmos com coisas que ultrapassam o poder da nossa vontade”. Epicuro
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