Andarilhos virtuais...

10 de setembro de 2008

Minúsculos guerreiros


Por entre as enormes folhas de bananeiras encontrei uma sociedade de pigmeus. Medindo cerca de treze polegadas, essas criaturas pequeninas são dignas de coragem e valentia de um gigante. Um deles se aproximou e pediu para que eu sentasse do seu lado. Atendi ao pedido e prestei atenção em cada palavra revelada. Tito media um pé de altura, seus olhos amendoados expressavam medo e pânico. O baixinho e seus amigos aventureiros não se acostumavam com esse país desconhecido e diziam que era difícil se adaptar com o clima tropical do Brasil.
Segundo o pequenino, toda a sociedade de pigmeus teve que imigrar para diversos paises. Isso porque seus inimigos, os grous, devastaram grande parte da cidade que se encontrava na nascente do rio Nilo, na Índia. Inúmeros pigmeus foram perseguidos e mortos em batalha sangrenta.
Confesso que eu me divertia com o modo de vida e a cultura dessas diferentes criaturas. Suas casas, edificadas com cascas de ovos, representavam segurança e proteção. Um dos anões quase me atropelou com seu carro puxado por perdizes. Ergui a sobrancelha de tanto espanto, mas depois desatei a rir.
Perguntei para Tito o que de mais corajoso o exército já havia feito. Ele me respondeu que o ato de bravura que repercutiu no mundo inteiro foi quando os soldados atacaram Hércules. No entanto, Hércules riu dos minúsculos guerreiros. Embrulhou alguns dos anões dentro de sua pele de leão e entregou ao rei de Micenas, Euristeus. Uma lágrima despencou dos meus olhos. Tomada por pena e compaixão, convidei todos os pequeninos para morar no meu quarto. Desde então, Tito e seus companheiros vivem confortavelmente em minhas gavetas.

APRENDA COM EPICURO

Tela: Waldemar Curt Freyesleben - paisagem paranaense, 1943

Existem infinitas possibilidades de aproveitar momentos ociosos como deitar na grama de um bosque ou jardim, caminhar tranquilamente pelo parque, dormir em baixo de uma árvore e olhar as nuvens, interpretando suas formas.
Epicuro (341-270 a.C.) também defende o ócio tranqüilo, a conversa agradável com os amigos e os prazeres da leitura. Ele era humilde, calmo, reservado e buscava incansavelmente o prazer e a ataraxia (paz interior). Para o filósofo, os prazeres devem ser evitados, pois o romance caminha de mãos dadas com as amargas decepções.
Nos dias de hoje, o princípio do prazer é interpretado de maneira bem diferente. Ou seja, o epicurismo é sinônimo de hedonismo devasso. Esse estilo de vida é celebrado com orgias, bebidas alcoólicas exageradas, prazer em troca de dinheiro e a gulodice. Erroneamente, o epicurismo moderno ganhou essa explicação que não tem nada a ver com o conceito antigo. O pensador, na verdade, apreciava os prazeres ociosos e não a libertinagem. Ele tinha uma vida calma e contemplativa. Comia e bebia moderadamente.
Epicuro estava certo, pois nada melhor do que explorar o ócio. Não me refiro ao desânimo, a preguiça ou melancolia. Mas, sim, parar pra pensar, observar o mundo, ouvir os pássaros no finalzinho da tarde de domingo e brincar feito criança. Afinal de contas, será que as pessoas da modernidade estão usufruindo e desenvolvendo sabiamente o tempo vago? A resposta pode variar, pois devido ao grande fluxo de informações, entretenimentos e opções de lazer, diversos indivíduos preferem se divertir em bares, boates ou assistindo televisão.
O termo Indústria Cultural, criado por Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer(1895-1973), em meados dos anos 40, mostra claramente que, dia após dia, a sociedade está acorrentada pelas máquinas de abstração. Então, para fugir dessas ferramentas alienantes, adotar o epicurismo intelectual seria o melhor remédio. Essa filosofia antiga de Epicuro nada mais é do que aproveitar o tempo livre e viver a boa vida. Mas, para aplicá-la corretamente, é preciso praticar e tomar gosto pela leitura de bons livros, participar de peças teatrais ou concertos musicais, tornando-se um indivíduo culto, questionador e engajado politicamente. No entanto, nos dias de hoje, acontece o inverso. Ou seja, em horário de lazer, um trabalhador ou um jovem quer esquecer seus problemas sentados em frente à televisão ou navegar horas e horas no mundo virtual. Desta maneira, a Indústria Cultural ganha o poder de dominar e controlar a maioria dos seus cidadãos consumistas.


“Só há um caminho para a felicidade. Não nos preocuparmos com coisas que ultrapassam o poder da nossa vontade”. Epicuro