Acordei assustada com o barulho do despertador. Por alguns minutos, refleti sobre esse sonho tão maluco. Eu ainda conseguia ouvir a voz de Zeus e tremia só de lembrar daqueles olhos tão expressivos. Tentei levantar da cama, mas meu corpo estava muito cansado.
Fechei os olhos novamente e, mais uma vez, peguei no sono. Fui voando para o Monte Olimpo. Meu corpo era leve como plumas flutuantes. O pôr-do-sol, na morada dos deuses, era magnífico. Lá estava eu, de novo, me preparando para bater na porta de nuvem. Mas antes disso acontecer, as deusas Estações abriram a porta para se despedir dos deuses. Fiquei triste, pois eu sabia que, sempre no final do dia, os imortais iam embora para suas casas. Alguns moravam na Terra, nas águas ou embaixo do mundo. Acabei desistindo de ir até o palácio. Então, fui caminhar num bosque desconhecido. Desci por uma gruta situada ao lado do promontório de Tenaro e cheguei ao reino do Estige. Esse lugar me recorda um livro muito conhecido, “O nome da rosa”, de Umberto Eco, onde vários assassinatos aconteciam em um mosteiro sombrio e medonho.
Claro que no reino do Estige não havia assassinato, pois a multidão que eu acabara de ver era das trevas. Ou seja, todos eles já estavam mortos. Inúmeros fantasmas vieram me perguntar sobre a vida de várias pessoas que moram na Terra. Mas um espectro, acuado em um canto escuro, me chamou atenção. Reparei que ele possuía um broche com um símbolo nazista.
Homero passou as mãos frias em meus cabelos e sussurrou no meu ouvido dizendo que, aquele no canto, era o Hitler. Nunca pensei em encontrar Hitler no reino de Hades, pois ele sempre afirmava que, quando morresse, iria para o palácio de Valhala. No entanto, só os corajosos guerreiros, mortos em combate, são escolhidos por Odin - na mitologia Nórdica, significa senhor da magia e deus da sabedoria - e, quando selecionados, podem desfrutar dos festins, das bebidas de hidromel, fornecida pela cabra Heidrum e da carne do javali Schrinnir. Pelo jeito, Hitler não teve escolha ou, por assim dizer, não foi escolhido por Odin.
Depois que passei pela multidão de almas, apresentei-me diante do trono de Hades (Plutão) e Prosérpina (Perséfone). Eles fizeram um gesto imperceptível com a cabeça, logo percebi que os deuses estavam hipnotizados com a música de Orfeu. O som da sua lira encantava diversos seres, que se reuniam em torno dele em transe. Nesse momento, todos os fantasmas choraram, o abutre parou de despedaçar o fígado de Prometeu, as filhas de Danaus descansaram do trabalho de carregar água, as faces das Fúrias se umedeceram, Argos fechou seus cem olhos, Sísifo sentou-se em seu rochedo para ouvir a melodia e eu adormeci no meu próprio sonho...
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